"O silêncio é o meu maior grito - sempre foi a minha maior arma de defesa. Silenciar o grito, engolir o choro, isolar-me na dor. Algumas das maiores cicatrizes que carrego somente são vistas no coração, não na carne. Como explicaria isso a alguém? Como conseguiria traduzir algo tão abstrato em forma de palavras ou dizeres?
O maior grito que entreguei foi no silêncio. No silêncio da minha dor."
Enquanto folheava o seu diário de adolescente, Ayla perguntava-se: de onde tinha tirado tanta dor do coração quando era mais nova?
Subitamente, lembrou-se: os adultos têm esta capacidade amnésica — de se esquecerem facilmente de que as lutas vencidas ao longo das suas jornadas foram, um dia, sentidas pelas suas versões passadas no âmago do momento vivido.
Ayla fechou o diário, desiludida por, em breves instantes, ter invalidado sentimentos que outrora haviam sido seus.
- O silêncio é o meu maior grito... - repetia em forma de sussurro enquanto arrumava o diário na gaveta da sua cabeceira. - O silêncio é o meu maior grito... Acho que ainda continua a ser...
Ao aperceber-se das horas, Ayla voltou para a sua secretária para planear todo o novo trimestre do seu pequeno ateliê.
Os meses que se seguiam eram o auge das atividades com os mais pequenos, que em breve entrariam nas férias escolares de verão.
Ayla mal podia esperar! Estar com crianças era um bálsamo para a sua criança interior.

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