Ayla questionava-se porque, de vez em quando, sentia-se como a sua versão adolescente em alguns momentos da sua vida. Parecia que esta ressurgia para recordar as lutas internas que ainda tinha por resolver. O tempo ocupara a vida de Ayla, mas o seu coração ainda carregava alguns golpes mal selados pela pressa de cura.

Nesse dia, num serão quente de primavera, Ayla decidiu reencontrar-se com a sua versão mais jovem e revoltada. Pegou no seu diário de bordo dos anos 2010 a 2014 e abriu aleatoriamente, na esperança de encontrar um trecho que decifrasse o que passava dentro dela. Após alguns minutos, deparou-se com um desabafo que fizera no pico da sua mocidade:

10 de abril de 2012

"Será que amamos alguém por ser quem ela é ou por ser útil para nós? Qual é a linha que separa esse sentido? Será que é perverso pensar em algo assim?

Questionar o hábito instalado em nós pode revelar partes infetadas que ainda não foram vistas com atenção, cuidado e eficácia.

Ignorar uma ferida não fará dela curada. Muito menos a tornará invisível. 

Será que me amam por ser quem eu sou ou por ser simplesmente útil? Quando deixo de ser um meio de ajuda, o amor é sustentado ou renegado? O meu valor é gerado pela utilidade que tenho? Serei algo mais do que isso? O amor precisa ser provado ou simplesmente a nossa existência é suficiente? Devo questionar tais coisas? Ou devo simplesmente continuar a viver desconfortavelmente para não incomodar quem está ao meu redor?

Pensei que se ignorasse essas questões dentro de mim, elas simplesmente se dissolveriam com o tempo. Mas, em vez disso, dissolveram o meu coração.

Demasiado sensível? Falta de maturidade? 

Assumir sempre a "culpa" para sobreviver tornou-me numa pessoa sem noção. Uma água morna que não refresca nem aquece ninguém. Poderia eu ser mais dramática que isto?"

Ayla ainda se sentia assim às vezes... Sentia que o valor dela ainda era, de certa forma, mensurável pela sua utilidade. Quando isso seria mudado? Quando se iria permitir em simplesmente existir sem provar o seu valor? Ayla questionava-se sobre isso. Ela sabia o que fazer mas ainda estava a reunir a coragem necessária para mudar a rota da sua jornada. 

    

Comentários

  1. Só te queria dizer que é um prazer ler-te! Obrigada 🥰💜

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    1. Querida Betty, obrigada eu de coração por estares aqui <3

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